domingo, 7 de junho de 2015

Inclusão: ponto de partida ou chegada? Uma breve (auto)reflexão

Foi com extrema felicidade que tive acesso à delicada campanha publicitária de O Boticário para o Dia dos Namorados. Tendo por pano de fundo uma das canções de que mais gosto, vi casais se abraçando e se presenteando nesta data comemorativa. Para minha surpresa, a empresa em questão representou também casais homoafetivos, o que foi digno de eu comemorar com efusividade em minhas redes sociais.

Pois bem. Tudo ia bem. Até que me defrontei com um texto da Geledes, site que tem como "marco de resistência" a luta da população negra, cujo título trazia a chamada para que O Boticário ficasse ligado que as mulheres negras e os homens negros amam seus companheiros e companheiros. Que a comunidade tanto heterossexual quanto a LGBT também ama e consome.

Confesso que acusei o golpe. Me senti mal por ter comemorado tão efusivamente e do alto dos meus privilégios de homem branco, classe média, hétero não ter me atentado para essa exclusão. Me senti mal porque percebi que posso ter naturalizado essa exclusão econômica e social. O texto de Geledes me deixou com vergonha de mim.

Passei os últimos dois dias pensando sobre isso. Agora há pouco, lendo uma passagem de Foucault em seu "A Ordem do Discurso", em que o "autor" é tido como "princípio de agrupamento do discurso, como unidade e origem de suas significações, como foco de sua coerência", essa questão me veio como novo soco. Um soco no sentido de que a partir de uma bandeira lindamente empunhada por O Boticário, a da inclusão de parte da comunidade LGBT, outra foi desastrosamente negligenciada e, possivelmente, de maneira ostensivamente proposital. E eu, de início, não me dei conta disso.

Li algumas linhas no sentido de que já era de comemorar que a empresa incluíra os LGBTs "brancos", que a inclusão é caminhar permanente. Concordo com a última parte da sentença. Discordo, entretanto, que é sem importância ou "jogar água no chopp" a bandeira levantada por Geledes. 

A inclusão tem sido uma construção; mas certamente Geledes possui a razão quando afirma que o Boticário tem até o dia 11 de junho para incluir GLBTs negros em sua campanha, para que a bandeira esteja íntegra, para que a inclusão - a mensagem que subjaz a peça publicitária - seja ponto de partida, ainda que muitas pessoas vejam isso - a propaganda - tão somente como chamado ao consumo. Ainda que seja, que seja um chamado para tod@s.

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